Megacentro de dados de Sines arranca com projeto de 100 milhões

O  "Sines 4.0", apresentado em abril está pronto para saltar do papel para o terreno. O primeiro edifício do projeto da anglo-americana Start Campus vai chamar-se Nest e deverá representar um investimento de 100 a110 milhões de euros

04 Outubro 2021

Foi apresentado em abril, num evento que contou com o primeiro-ministro, António Costa Cinco meses depois, o Sines 4.0 está pronto para saltar do papel para o terreno. O primeiro edifício do projecto da anglo-americana Start Campus vai chamar-se Nest e deverá representar um investimento de 100 a110 milhões de euros. A limpeza do terreno e a instalação dos alicerces arrancam ainda em 2021.O objetivo é que esteja funcional no primeiro trimestre de 2023.

O projeto, que vai implicar um investimento total de 3,5 mil milhões de euros, sofreu alterações de fundo face ao plano inicial. Em vez de cinco edifícios, com capacidade para fornecer 450 MW de energia aos servidores, vão nascer nove. Ou "oito mais um", como explica ao Negócios o managing director da start campus, Afonso Salema É esse "mais um", o Nest, que vai arrancar de imediato. "Será como um projeto-piloto. Vai ser o edifício mais pequeno do campus, com apenas um piso, e terá capacidade para 15 MW". Na segunda fase está prevista a construção dos restantes oito edifícios, mais pequenos face ao inicialmente previsto, com quatro pisos cada, e uma capacidade total de 495 MW. "Com esta mudança, reforçamos as valências ambientais do terreno. A integração com a paisagem do parque natural será mais suave, não terá um aspeto industrial", explica Afonso Salema

A densidade energética de cada edifício também foi reforçada, "para responder às necessidades dos futuros clientes", que serão grandes empresas internacionais de tecnologia, como Amazon, Google ou Netflix.

A mudança de planos tem ainda outro objetivo: acelerar o tempo de entrega do projeto, para que Sines não fique para trás da concorrência "Há uma competição acérrima na Europa para atrair os próximos grandes centros de dados. Nós temos um produto único, e queremos atrair clientes o mais depressa possível. Com o Nest, conseguimos trazê-los enquanto estamos a desenvolver o resto do projeto", ressalva Afonso Salema

A corrida por este tipo de projetos deve-se à riqueza que geram, explica o responsável. Apesar de não avançar valores concretos, Afonso Salema tem uma certeza "Vamos ser, com o campus inteiro, um dos maiores criadores de valor acrescentado bruto (VAB) do país. Se não o maior."

Sines atrai emigrantes

Oficialmente, os contactos com possíveis "inquilinos" do Sines 4.0 ainda não começaram. Mas a start campus, que é detida pela norte -americana Davidson Kempner e pela britânica Pioneer Point Partners, já percebeu que o projeto está a despertar interesse a nível global. "Ainda é cedo para iniciar contactos oficiais, porque não estamos prontos para lhes apresentar os termos comerciais. Mas, informalmente, já fomos abordados. As empresas acham o conceito muito inovador."

Além dos possíveis clientes, a start campus já começou a receber contactos de interessados em trabalhar no projeto. "Desde que fizemos o anúncio, começaram a chover currículos de portugueses que trabalham no setor, e que emigraram por falta de oportunidades." Face à exigência do projeto, a empresa está" à procurade soluções" para qualificar pessoas. "Vamos precisar de muita segurança e de engenheiros eletrotécnicos, mecânicos e de redes."

Quando estiver concluído, o Sines 4.0 deverá criar até 1.200 postos de trabalho. Com o Nest, os promotores prevêem empregar diretamente entre 70 e 100 pessoas. Tudo dependerá de quantas empresas se instalarem no edifício piloto, que terá capacidade para receber, no máximo, seis. Poderá ocorrer que uma única empresa contrate toda a capacidade disponível do protótipo. Na prática, até é possível que uma só empresa contrate os 495 MW do Sines 4.0. "Pode dar-se o fenómeno. A Amazon está a construir um centro de dados de 350 MW em Espanha", nota Afonso Salema O Sines 4.0, que será um dos maiores campus de centros de dados da Europa, deverá estar concluído em 2027.

"É mais difícil entrar num centro de dados do que em Fort Knox"

O Sines 4.0 terá oito edifícios em linha num espaço de 60 hectares. A parte sul do terreno, que foi contratado por 50 anos à AICEP, será integrada com a paisagem do parque natural da Costa Vicentina. Terá espaços sociais, que serão destinados apenas aos trabalhadores. "0 perímetro de segurança será muito apertado", garante Afonso Salema. "É mais difícil entrar num centro de dados do que em Fort Knox", a base do exército norte-america- no. "São instalações de importância crítica (mission criticai) que funcionam em três turnos de oito horas", revela o responsável. Além da segurança física, será preciso contratar engenheiros altamente especializados, que terão a missão de monitorizar possíveis ataques cibernéticos. O Sines 4.0 vai disponibilizar esse serviço aos clientes, mas as próprias empresas poderão trazer os seus especialistas. Uma das mais-valias do projeto, acrescenta Afonso Salema, é a "perceção de segurança muito elevada de Portugal", tanto física como de dados. "Graças à nossa localização, podemos ser o centro de dados de todo o continente africano, da América Latina, do Sul da Europa e até do Médio Oriente. Temos uma vantagem estratégica."

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